Qual a melhor estratégia para entender e intervir no comportamento depressivo, a antiga melancolia descrita pelos gregos ou a atual patologia classificada no CID 10 revisão, como episódios e transtornos depressivos?
Parafraseando Lacan são inegáveis as
contribuições da psicanálise sobre a experiência subjetiva com seus resultados
na psicologia concreta. Na psicologia das emoções, por exemplo, podem ser
identificados estados tão diversos como o medo fantasístico, a cólera, a
tristeza ativa e a fadiga psicastênica (Lacan, 1998 p.112-113)
Intrigantes também são as
contribuições da psicanálise à criminologia, o estudo dos motivos do suicídio e a pertinente a observação que fez sobre o poder do ato agressivo
desfazer a construção delirante. (Lacan, 1998 o.c.)
No caso específico do suicídio e tristeza são também relevantes as observações de Storr (1978) sobre a depressão e agressividade. Ao meu ver considerando o conjunto de sinais e sintomas da síndrome depressiva temos como estratégia a intervenção em qualquer um de suas manifestações. A ênfase tem sido dada a abordagem farmacológica de neurotransmissores da tristeza/alegria (?), mas há sinais e sintomas relacionados à fadiga, desânimo e/ou, há os aspectos subjetivos e circunstanciais interpessoais da origem de tal sentimento ou de sentimentos como o luto, o remorso, ou sensação de culpa e baixa de auto-estima.
Recentes pesquisas sobre saúde do
microbioma intestinal e saúde mental especialmente depressão me fizeram voltar
a questão das observações de Storr sobre depressão e agressão especialmente da
condição de entrada e saída no quadro depressivo com episódios e manifestação
de irritabilidade e agressão, o que não é nenhuma novidade para medicina
tradicional chinesa que associa a irritabilidade e raiva a disfunções do
meridiano do fígado. O Dr. Fernando Hoisel, psiquiatra e médico nutrólogo,
comentando tal relação (em comunicação pessoal) me fez observar a etimologia da
palavra “enfezado” como possível constatação e também suas observações clinicas
da melhora dos estado geral de saúde com o tratamento da prisão de ventre.
Algumas vezes citou um dito da medicina natural ou sabedoria popular que
recomendava mamão para abrandar irritação e a raiva.
A proposição de Anthony Storr,
expressa no capítulo ( 8) "agressão em relação à depressão" do seu
livro "A agressão Humana" (1976) é o registro de que: apesar da
relevância a tristeza na depressão, esta não é o principal sinal de tal
condição. Assinala que "também existe uma indisposição para a atividade
que pode chegar a imobilidade quase completa e um retardamento dos processo
mentais...uma perturbação do ritmo do sono, perda do apetite, constipação,
diminuição do desejo sexual entre outros sinais onde destaca a severa inibição
do impulso agressivo precedido ou sucedido pela irritabilidade, antes ou depois
do quadro depressivo propriamente dito (o.c. p.90, 92)
Ainda segundo Storr observe-se
que relação entre a agressão e a depressão também pode ser sublinhada pela
referência ao estudo recente de D. J. West, Murder Followed by Suicide, onde se
constatou que “de cada três assassinatos cometidos na Inglaterra, um é seguido
pelo suicídio do assassino. O que por sua vez nos remete à proposição ou
hipótese de Freud de que, segundo ele, a agressão contra outros e a agressão
contra o eu estão reciprocamente relacionadas e são, até certo ponto,
intercambiáveis.
Para finalizar este breve escrito
de pesquisa sobre as estratégias de intervenção na síndrome depressiva para que
não seja somente o ato agressivo o que desfaça a construção agressiva deixo
esta preciosa reflexão sobre o conceito de “passagem ao ato” na psicanálise e a
recomendação de leiam sobre tal artigo ou questionem a proposição de
intervenções na regulação do aparelho digestivo associada ou não à intervenções
psicofarmacológicas e psicanalíticas.
"O papel do sintoma,
estimava Freud, é o de proporcionar uma resposta à angústia. No entanto,
existem casos em que, de forma temporária ou duradoura, a angústia não fica
velada pelo sintoma e o sujeito se vê diretamente defrontado com ela. Em tais
casos podemos descrever dois tipos de configuração sintomatológica: um em que a
angústia é o sintoma dominante sem necessariamente encontrarmos saídas pelos
atos, e outro no qual a angústia irá determinar ações, ainda que se trate de
demandas veladas de ajuda (acting-out), ainda que seja que o sujeito periga com
elas uma saída definitiva (passagem ao ato)". Álvarez, Esteban e Sauvagnat
(2004, p. 268, apud: Calazans, Bastos, 2010)
Referências
BARNEY, Joshua Probiotic in Yogurt Reverses Depression. March
07 2017
http://newsroom.uvahealth.com/2017/03/07/probiotic-found-in-yogurt-can-reverse-depression-symptoms-in-mice-uva-finds/ aces. agosto, 2017
CALAZANS, Roberto; BASTOS,
Angélica. Passagem ao ato e acting-out: duas respostas subjetivas. Fractal,
Rev. Psicol., Rio de Janeiro , v. 22, n. 2, p. 245-256, Aug. 2010 . Available
from < http://www.scielo.br/pdf/fractal/v22n2/02.pdf >. access on 02 Aug.
2017.
LACAN Jacques. A agressividade em
psicanálise. in: LACAN Jacques. Escritos. RJ Zahar, 1998 Disponível na Página
da BIBLIOTECA SIGMUND FREUD
http://www.bsfreud.com/jlagressividade.html
aces. agosto, 2017
MARIN, Ioana A. et al. Microbiota
alteration is associated with the development of stress-induced despair
behavior. Nature Scientific Reports 7, Article number: 43859 (2017) https://www.nature.com/articles/srep43859 aces. agosto, 2017
STORR, Anthony. A agressão
Humana" RJ: Zahar, 1976
TORRADO. Depressão - Um Estudo de como a Medicina Ocidental e a Medicina Tradicional Chinesa se Complementam. Curitiba, Paraná: Ed Juruá, 2009
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Ver também: Dian Kuang - 癫狂
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