segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Alucinação, anotações essenciais

 

O conceito de "alucinação" em psiquiatria foi cunhado por Jean-Étienne D. Esquirol (1772-1840) em 1838, como percepção sem objeto, já havendo nesta época, diferenciação de alucinação, ilusão e/ou percepção distorcida e mesmo da simples divagação.

As alucinações são fenômenos “positivos” em contrastes com sintomas negativos de perdas ou deficiências do campo visual. Consta que segundo Kaplan (1997), já se catalogou diversos tipos de alucinações, sendo diferenciados catorze tipos. Por exemplo: as pseudoalucinações (que não se projetam no espaço como uma alucinação e não possuem a qualidade detalhada de uma coisa percebida); alucinações hipnagógicas (ao adormecer); alucinações eidéticas (memória 'fotográfica'); percepções equivocadas tipo “poliopia”, diplopia, visão multiplicada ou duplicada; palinopsia – repetição de uma cena ocorrida.

As alucinações podem ocorrer em correlação com qualquer um dos cinco sentidos isolados ou combinados.

O neuroantropólogo  Oliver Sacks (1933 - 2015) em seu livro Hallucinations [A mente assombrada. SP: Companhia das Letras, 2013] distingue ainda: [em capítulos próprios]:

 1) Alucinações de cegos e deficientes visuais – Síndrome Charles Bonnet, quem primeiro observou o movimento dos olhos dirigido a uma percepção sem objeto.

 2) Alucinações relacionadas à privação e monotonia sensorial.

 3) Anosmia e cheiros alucinatórios.

 4) Vozes, citando Bleuler, ressalta “quase todos esquizofrênicos ouvem vozes, mas o inverso não se aplica” ...um fenômeno que ocorre em todas as culturas e referido no “Censo Internacional de Alucinações” realizado na Inglaterra em 1880 como comum em 10% das 17.000 pessoas entrevistadas. Destaca também o caráter hostil e persecutória das “vozes” percebidas na psicose e a natureza das “alucinações musicais” (parasitas auditivos).

 5) Nas ilusões do parkinsonismo e encefalite letárgica assinala a importância dos efeitos típicos da levodopa nesses pacientes.

 6) Neste capítulo analisa os efeitos do “alucinógenos” incluindo desde as experiências de W. James com Óxido Nitroso, os relatos sobre o cacto “mescal” e mescalina, o haxixe e ópio das pesquisas de Quincey, Gautier, Baudelaire e Moreau, até os mais modernos relatos de Klüver, Huxley, Hoffman e Shultes acerca do LSD, Psilocibina, outras plantas e as recentes pesquisas correlacionando o efeitos de ativação “anormal” do sistema visual responsável pela percepção de cor, visão estereoscópica de tamanho e profundidade, padrões geométricas, em conexão sinestésica com outros sentidos ou não.

 7) Analisa os flashes escotomas visuais e os padrões geométricos associados à enxaquecas, que foram inclusive objetos de sua tese de mestrado.

 8) Neste capítulo discorre sobre as epilepsias e seus pródomos, auras, gostos e cheiros alucinatórios, sensações de “déjà vu”, flashbacks, crises sensitivas e extáticas.

9) do campo visual dividido: ...Não vemos com os olhos, vemos com o cérebro, que possui dezenas de sistemas para analisar as informações que entram pelos olhos... Além da deficiência ou perda da visão em um lado, pode haver também sintomas positivos: alucinações na área cega ou de visão limitada. Cerca de 10% dos pacientes com hemianopsia súbita tem esse tipo de alucinação e reconhecem de imediato que estão tendo uma alucinação.

 10) ...em Londres no Hospital de Middlesex, 1950, muitos pacientes com delírio. Estados de flutuação da consciência causados às vezes com infecções com febre ou por problemas como insuficiência dos rins ou do fígado, doença pulmonar ou diabetes mal controlado ...

 11) ...padrões ou texturas geométricas involuntárias que aparece pouco antes de adormecer – alucinações hipnagógicas, para usar o termo cunhado pelo psicólogo francês Alfred Maury em 1848. Estima-se que elas ocorram na maioria das pessoas, pelo menos ocasionalmente, embora possam ser tão sutis que passam despercebidas...

 12) Narcolepsia e pesadelos ...hoje sabemos que o hipotálamo secreta hormônios da “vigília” as orexinas, que são deficitárias nas pessoas com narcolepsia congênita... A palavra que designa pesadelo em inglês “nightmare” originalmente se referia a uma mulher demoníaca (“mare”) que durante a noite (night) sufocava que dormia deitando-se sobre o seu peito... (também conhecida como “Old Hag” velha megera)...Ernest Jones ressaltou que os pesadelos diferem dos sonhos comuns em sua invariável sensação de uma presença aterrorizante, dificuldade de respirar e percepção de que está paralisado ... Adler observou que é um estado diferente do sono ...a pessoa está acordada de um modo parcial ou dissociado...

 13) ...parece haver no cérebro um mecanismo fisiológico primário que gera ou facilita a alucinação – um mecanismo fisiológico primário relacionado à irritação local, “liberação”, distúrbio de neurotransmissores ... que não tem muita relação com as circunstâncias, o caráter, as emoções, as crenças ou o estado mental do indivíduo. ...flashbacks triviais ou comoventes estão associados a convulsões dos lobos temporais.  Experiências carregadas de emoções produzem uma impressão indelével no cérebro e o compelem à repetição ...podem ser de vários tipos luto (às vezes assumem a forma de uma voz), traumas ...que podem também derivar de um esmagado sentimento de culpa...O Transtorno de Estresse Pós Traumático TEPT) está associado à flashbacks, pesadelos, ruminação obsessiva requerem medicação além de psicoterapia...Nesse grupo da “mentes assobradas” inclui-se ainda “amigos imaginários”, alucinações propositais da infância, vivências de êxtase religioso, exorcismos e comunicação com espíritos.

 14) Doppelgängers ("duplo/réplica ambulante/andante"),autoscopia, EEC Experiências Extra Corpóreas está associado à paralisia do sono, estados de quase morte e a convulsões e estímulos do giro angular direito em cirurgias do cérebro em vigília.

 15) Membros fantasmas e os rearranjos da imagem esquema corporal são alucinações complexas (mais de um sentido) associadas à alterações tipo estranhamento de partes do corpo, paresias, impressões de presença, vultos ou sombras e sensação de ser observado.

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Na psicanálise...

 ... Miss Lucy, uma governanta inglesa contratada por uma família vienense, consultou Freud em 1892, em função de uma alucinação olfativa acompanhada de crises depressivas. Sentia-se perseguida por um cheiro de pudim queimado. Utilizando o mesmo método empregado com Elisabeth, Freud usou a palavra recalque para mostrar que os sintomas de sua paciente provinham do amor inconsciente que ela nutria pelo patrão. p.206

Alucinação negativa, foraclusão, negação, renegação

 O termo foraclusão foi introduzido pela primeira vez por Jacques Lacan, em 4 de julho de 1956, na última sessão de seu seminário dedicado às psicoses e à leitura do comentário de Sigmund Freud sobre a paranóia do jurista Daniel Paul Schreber.

Para compreender a gênese desse conceito, há que relacioná-lo com a utilização que Hippolyte Bernheim fez, em 1895, da noção de alucinação negativa: esta designa a ausência de percepção de um objeto presente no campo do sujeito após a hipnose. Freud retomou o termo, porém não mais o empregou a partir de 1917, na medida em que, em 1914, propôs uma nova classificação das neuroses, psicoses e perversões no âmbito de sua teoria da castração. Deu então o nome de Verneinung ao mecanismo verbal pelo qual o recalcado é reconhecido de maneira negativa pelo sujeito, sem no entanto ser aceito: “Não é meu pai.”...p. 245

Lacan inspirou-se no trabalho de Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), Phénoménologie de la perception, e sobretudo nas páginas desse livro dedicadas à alucinação como “fenômeno de desintegração do real”, componente da intencionalidade do sujeito. P.246

 ... o conceito de real é inseparável dos outros dois componentes desta, o imaginário* e o simbólico, e forma com eles uma estrutura. Designa a realidade própria da psicose (delírio, alucinação), na medida em que é composto dos significantes foracluídos (rejeitados) do simbólico... p. 645

Nascida em Rostov, Sabina Spielrein era de uma família judia abastada e culta. Educada segundo princípios tradicionais, manifestou desde a infância uma imaginação transbordante, até o dia em que foi vítima de uma alucinação: viu dois gatos ameaçadores instalados sobre sua cômoda, o que a levou depois a ter angústias noturnas e uma fobia por animais e doenças. p.725

Roudinesco, Elisabeth, Plon, Michel. Dicionário de psicanálise. RJ: Zahar, 1998.

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A tese de que uma “vivência de dor” é simétrica da vivência de satisfação, é logo à primeira vista paradoxal: por que o aparelho neurônico iria repetir até à alucinação uma dor que se define por um aumento de carga, se a função do aparelho é evitar qualquer aumento de tensão? ... perceberíamos, a nosso ver, que a dor física como violação do limite corporal deveria antes ser tomada como um modelo daquela agressão interna que a pulsão constitui para o ego. Em vez de repetição alucinatória de uma dor efetivamente vivida, a “vivência de dor” deveria ser compreendida como o aparecimento, quando da revivescência de uma experiência que em si mesma pode não ter sido dolorosa dessa “dor” que para o ego é a angustia. p.110 (Defesa)

Na sua primeira elaboração metapsicológica do funcionamento psíquico, Freud atribuiu um papel de primeiro plano à noção de Ego, No projeto de uma psicologia científica, a função do Ego é essencialmente inibidora. Naquilo que é descrito por Freud como “vivência de satisfação”, o Ego intervém para impedir que a imagem “mnésica” do primeiro objeto satisfatório adquira uma força tal que desencadeie um “indicador de realidade”, tal como a percepção de um objeto real. Para que o indicador de realidade assuma para o sujeito o valor de critério, isto é, para que a alucinação seja evitada e para que a descarga se produza quer na ausência quer na presença do objeto real, é necessário que seja inibido o processo primário que consiste numa livre propagação da excitação até a imagem. Vemos assim que, embora o Ego seja o que permite ao sujeito não confundir seus processos internos com a realidade, isso não significa que ele tenha um acesso privilegiado ao real, um padrão ao qual comparar as representações. Este acesso direto à realidade Freud reserva um sistema autônomo chamado de sistema de percepção “W” ou “w” ... p.128 (Ego ou Eu)

Laplanche J. Pontalis. Vocabulário da psicanálise. SP: Martins Fontes, 2001

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Genesis 22

E aconteceu depois destas coisas, que provou Deus a Abraão, e disse-lhe: Abraão! E ele disse: Eis-me aqui.

E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi.

Então se levantou Abraão pela manhã de madrugada, e albardou o seu jumento, e tomou consigo dois de seus moços e Isaque seu filho; e cortou lenha para o holocausto, e levantou-se, e foi ao lugar que Deus lhe dissera.

Ao terceiro dia levantou Abraão os seus olhos, e viu o lugar de longe.

(Gênesis 22:1-4) ...

Então falou Isaque a Abraão seu pai, e disse: Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui, meu filho! E ele disse: Eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?

E disse Abraão: Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho. Assim caminharam ambos juntos.

(Gênesis 22:7,8)...

E estendeu Abraão a sua mão, e tomou o cutelo para imolar o seu filho;

Mas o anjo do Senhor lhe bradou desde os céus, e disse: Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me aqui.

Então disse: Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único filho.

Então levantou Abraão os seus olhos e olhou; e eis um carneiro detrás dele, travado pelos seus chifres, num mato; e foi Abraão, e tomou o carneiro, e ofereceu-o em holocausto, em lugar de seu filho.

(Gênesis 22:10-13)...

Então o anjo do Senhor bradou a Abraão pela segunda vez desde os céus, E disse: Por mim mesmo jurei, diz o Senhor: Porquanto fizeste esta ação, e não me negaste o teu filho, o teu único filho,

Que deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar; e a tua descendência possuirá a porta dos seus inimigos;

E em tua descendência serão benditas todas as nações da terra; porquanto obedeceste à minha voz.

(Gênesis 22:15-18)...

Bíblia Online - ACF - Almeida Corrigida
https://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/22

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Nesse caso das visões de Abraão podemos perguntar qual comportamento foi semelhante ao derivado de uma alucinação?

- Imaginar Deus ordenando um ordem anti-ética (contra seus próprios princípios)?

- Deus lhe salvado do filicídio (um impulso homicida) e lhe proporcionado a coragem de ser um patriarca?

A resposta pode estar nessa ou em outra crença religiosa:

Por exemplo lê-se no Dharmapada, (caminho do Dharma)  o mais conhecido e traduzido texto budista, registrada, pela primeira vez, na forma escrita (até então, era preservada exclusivamente por via oral) entre os anos 88 e 76 a.C., no Ceilão:

“Como na casa de bom teto, onde a chuva não entra, numa mente com treinamento* o desejo nunca entrará". (Darmapada. 1:14)

atenção e vigilância – darma e meditação

Darmapada, a doutrina budista em versos. Porto Alegre: L&PM, 2010


VER TAMBÉM

Silva, Regina Cláudia Barbosa daEsquizofrenia: uma revisão. Psicologia USP [online]. 2006, v. 17, n. 4 [Acessado 2 Agosto 2021] , pp. 263-285. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0103-65642006000400014>. Epub 30 Set 2010. ISSN 1678-5177. https://www.scielo.br/j/pusp/a/Vt9jGsLzGs535fdrsXKHXzb/?lang=pt

Waters F, Fernyhough C. Hallucinations: A Systematic Review of Points of Similarity and Difference Across Diagnostic Classes. Schizophr Bull. 2017;43(1):32-43. doi:10.1093/schbul/sbw132 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5216859/

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Abrahams sacrifice

Rembrandt van Rijn, 1655 [wikimedia commons]
https://www.artsy.net/artwork/rembrandt-van-rijn-abrahams-sacrifice

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Disponível também, com outros textos e imagens afins em 

Arte & testes gráficos
https://www.facebook.com/ArteExplicaArte/

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quinta-feira, 17 de junho de 2021

Considerações sobre “energia vital” e a trajetória da homeopatia e saúde mental no Brasil, investigadas a partir do livro “a loucura sob novo prisma”

 



RESUMO

A partir do conceito de energia vital investiga-se a partir de revisão bibliográfica as contribuições do Dr. Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti (1831-1900) evidenciando-se suas múltiplas acepções de ação orgânica, clínica e psicossocial, no tratamento dos distúrbios mentais. Observou-se que esta concepção multidimensional, prismática, desenvolveu-se ao longo da trajetória profissional do Dr. Bezerra de Menezes, desde suas atividades como estudante de medicina, médico clínico, homeopata, político e eminente representante da religião espírita. O problema das lacunas de documentos históricos, evidências quanto ao período em que o livro foi escrito e fontes bibliográficas primárias, foi contornado pela interpretação do Zeitgeist, espírito dos finais do séc. XIX no Brasil, ou correlação de sua obra e história de vida. Identificou-se um nítido e coerente emprego do conceito de energia vital análogo às modernas proposições das práticas integrativas e complementares (PICS) integradas na concepção de paradigma vitalista, psicologia analítica e clínica psicossocial com promissoras aplicações da homeopatia na farmacopsicoterapia.

Palavras chave: Bezerra de Menezes, energia vital, doença, saúde mental

Texto publicado, como resenha do livro A loucura sob novo prisma na wikipédia, agora revisto para integrar os estudos sobre a construção do paradigma vitalista que integra, e é capaz de orientar a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares - PNPIC, que incluía inicialmente a Acupuntura, Homeopatia, Fitoterapia e o Termalismo Social/Crenoterapia  (Portaria MS nº 971, de 03 de maio de 2006) e posteriormente as seguintes práticas: aromaterapia, apiterapia, bioenergética, constelação familiar, cromoterapia, geoterapia, hipnoterapia, imposição de mãos, medicina antroposófica/antroposofia aplicada à saúde, ozonioterapia, terapia de florais (Portaria MS n° 702, de 21 de março de 2018) 

Muito já se escreveu sobre “energia vital” inclusive sobre os possíveis paralelos entre as racionalidades médicas orientais, especialmente as definições de Qi ou ch'i () da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), Prāna (em sânscrito प्राण, sopro de vida) ou Kundalini (em sânscrito:  कुण्डलिनी , ora descrita como serpente, ora como deusa ou energia) e a homeopatia, onde foi descrita por Samuel Hahnemann (1755 – 1843) no Organon como: “a força (autocrática) que anima dinamicamente, reina com poder ilimitado e mantém todas as partes do organismo em perfeito estado, e harmonia, nas suas sensações e funções,  integrando à alma (ou a mente e sentimentos) ao corpo”. Literalmente ... “de maneira que o espírito dotado de razão, que reside em nós, pode livremente dispor desse instrumento vivo e são para atender aos mais altos fins de nossa existência” (Organon § 9) [1] [2] [3] Hahnemann, observa ainda Àvila-Pires, comparava a força vital ao magnetismo e ao mesmerismo, em voga na sua época. [4]

Como se sabe o Espiritismo e a Homeopatia tiveram uma origem comum no Brasil, ambos com lugar de destaque na corte e na medicina do período imperial. [5]. Consta que Dom Pedro I (1798 - 1834) correspondia-se com Hahnemann e que José Bonifácio (1763 - 1838) foi um dos primeiros experimentadores tanto da homeopatia como do espiritismo e que um conhecido vereador e médico homeopata, Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti (1831-1900), objeto de nosso presente estudo, se destacou na propagação dessa pretensa "ciência espírita" nos deixando algumas reflexões sobre sua interface de sua aplicação ao tratamento das “doenças mentais”. Um dos objetivos do presente texto portanto é pesquisar as referências desse médico tanto à homeopatia, por suas referências à “energia vital” como ao tratamento das doenças mentais como publicado no seu livro “A loucura sob novo prisma” aqui analisado.

Racionalidade médicas

O projeto RM (racionalidade médica) que emergiu no Campo da Saúde Coletiva, área das Ciências Sociais e Humanas em Saúde, no início da década de 1990, propôs a comparação das medicinas homeopática, tradicional chinesa, ayurvédica e ocidental contemporânea no que vem sendo denominado no chamado paradigma vitalista [6]. Observe-se que entre outros aspectos comparáveis, está a concepção de que a energia vital não se limita, ou é traduzível apenas pelo conceito de força, trabalho ou potência (energia), pois abrange além do aspecto quantitativo uma dimensão qualitativa ou simbólica (psíquico) que abrange as relações familiares e sociais (morais) e a ética dos comportamentos dos indivíduos.

Sabe-se porém que generalizações sobre as descrições etnográficas sobre práticas médicas e técnicas corporais, apesar de necessárias na perspectiva de estudos teóricos (enológicos), são inadequados porque, existe certa especificidade em cada sistema de crenças e/ou de enunciados dessa prática e saber “médico” que se constituem sobre elementos empíricos, mágicos, míticos religiosos e racionais que podem ficar ocultas no exercício da comparação (etnocêntrica). [7] [8] [9]

Por outro lado a comparação, como se fossem atalhos indicadores das linhas de pesquisa, nos permite ampliar o conhecimento, organizando este sob a forma de modelos etiológicos e terapêuticos fundamentados em teorias de base empírica e científica. [10]

Segundo Luz e Kleinman tais modelos podem ser comparados segundo sua “complexidade” integrando, segundo Luz [11], [12] cinco dimensões básicas concebidas a partir de modelos teóricos, simbólicos ou práticas, a saber: (A) uma morfologia humana; (B) uma dinâmica vital humana; (C) uma doutrina médica; (D) um sistema de diagnose; (E) uma cosmologia (F) um sistema terapêutico. E/ou, segundo Kleinman [13], é possível uma divisão entre as áreas (arenas) ou setores: popular (folk) e popular (doméstico) com o setor profissional.  Nessa concepção as medicinas homeopática, tradicional chinesa e ayurvédica correspondem ao setor popular (folk) e a medicina cosmopolita ocidental ao setor profissional. As medicinas tribais ameríndias, africanas e seus derivados ou sobrevivências, situam-se no âmbito doméstico (um saber compartilhado por toda comunidade) e confundem-se com os sistemas míticos religiosos. A medicina espírita, que é nosso presente objeto de estudo, situa-se nesse âmbito. 

Medicina espírita & medicina homeopática no tratamento dos distúrbios mentais

Uma vez delimitado as possibilidade de entendimento e uso do conceito de “energia vital” nos cabe a análise das contribuições do Dr. Bezerra de Menezes tanto ao tratamento dos distúrbios mentais com medicação homeopática e em uma perspectiva da “medicina espírita”, enquanto um aspecto da arena do saber médico popular ou mítico religioso, considerando que um de seus principais escritos sobre o tema, o livro “A loucura sob novo prisma” e o “Livro dos Espíritos” (em portugûes) foram editados pela Federação Espírita Brasileira (FEB), fundada em 1884.

São pouco conhecidas e divulgadas as recomendações quanto ao uso e a prescrição de fitoterápicos e remédios homeopáticos do Dr. Bezerra de Menezes para doenças nervosas ou distúrbios mentais. No filme sobre sua vida, Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírito (dirigido por Glauber Filho e Joe Pimentel em 2008) assiste-se a uma cena onde o ator Carlos Vereza, no papel título, apresenta um estudo, em sala de aula, sobre as propriedades medicinais das Passifloras, reconhecidas por sua ação sedativa, e consta também entre suas publicações um estudo sobre o Curare. [14]

Observe-se porém que para a homeopatia, quaisquer características humanas, desproporcionais em sua expressão natural e promotora de distúrbios de qualquer natureza (espiritual, social, familiar, escolar, psíquica, emocional, física, climática, alimentar etc.), são consideradas sintomas homeopáticos passíveis de modulação por aplicação de medicação a partir do princípio da similitude terapêutica. [15] Na própria obra de Hahnemann, o clássico Organon, 1810, já são descritos a importância dos fatores emocionais e psicológicos como causas das doenças, sendo implícito, portanto, o interesse do Dr. Bezerra de Menezes no tratamento dos distúrbios emocionais.

A farmacopeia homeopática reúne um reconhecido grupo de substancias psicoativas presentes em diversos vegetais (principalmente), alguns minerais a exemplo do arsênico (Arsenicum album) e mercúrio (Mercurius solubilis) em diluições adequadas e nosódios ou seja, medicamentos preparados a partir de produto patológico de origem animal ou vegetal. Muitos destes medicamentos são conhecidos desde a proposição original de Hanneman (1755 – 1843) que já considerava a “doença mental como uma alteração patológica e não uma possessão demoníaca como era a regra de sua época.

No tratamento homeopático, além dos distúrbios mentais como conhecemos hoje, diversas outras indicações terapêuticas e substancias foram pesquisadas por diversos auto observadores e clínicos, além de Hanneman, tanto das fontes de “tintura mãe” como de suas diluições. Entre plantas psicoativas utilizadas temos, por exemplo: amanita (Amanita muscaria), belladonna (Atropa belladonna), cânhamo (Cannabis indica e C. Sativa) chamomilla (Matricária chamomilla), hyosciamus (Hyoscyamus niger), helleborus (Helleborus niger)  nux vomica (Strychnos nux-vomica), opium (Papaver somniferum), stramonium (Datura stramonium), valeriana (Valeriana officinalis) entre outras e como dito, na homeopatia o uso dessas plantas não se limita às afecções do sistema nervoso. [16]

O interesse do tratamento dos distúrbios por tal classe de substancia psicoativas e seu potencial de uso em diluições vem sendo renovado, sobretudo por recentes pesquisas sobre uso de uma classe de substancias consideradas psicodislépticos ou psicodélicos tais como LSD – Dietilamida do ácido Lisérgico (extraído do fungo Claviceps purpúrea); Psilocibina (do Psylocibe cubensis); DMT – Dimetiltriptamina / Ayahuasca (da Psychotria viridis e Banisteriopsis caapi) ; Mescalina (do cacto Peyote ou Lophophora williamsii ) [17], [18], [19], [20]

O livroA loucura sob novo prisma”

A “Loucura sob novo prisma”, é o título do livro que se encontra na 13ª edição pela FEB - Federação Espírita Brasileira, por quem é editado desde 1920 (1939). Livro póstumo mas possivelmente escrito pelo próprio Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti (1831-1900) enquanto "encarnado", ou seja no período que abrange o Brasil do Império e do início da República. [21]

Segundo Klein Filho, um dos biógrafos de Bezerra de Menezes, [22] esse livro teve sua primeira edição em 1921, pela tipografia Bohemias, e sua quarta edição comprovadamente realizada pela FEB. Sua análise ou nos remete ao final do século XIX ou início do Séc. XX, portanto, e, independente do período em que foi escrito relaciona-se, como veremos, à tentativa de simultaneamente abordar o tema das doenças mentais no ponto de vista religioso e científico.

Várias publicações da doutrina espírita sobre a "doença mental" tomam com referência as questões respondidas no "O Livro dos Espíritos" de Allan Kardec no capítulo IX (Parte Segunda) intitulado "Da intervenção dos espíritos no mundo corpóreo", em especial os textos sobre Possessos e Convulsionários; e no capítulo VII os textos sobre "idiotismo e loucura". Após 1920 podemos afirmar com segurança o próprio livro do Dr. Bezerra de Menezes, torna-se uma referência do tema, a exemplo de suas citações no livro do médium Divaldo Franco, Loucura e Obsessão entre outros. O referido livro "A loucura sob novo prisma" não foge à regra de concordância com a obra de Kardec, o que também pode ser considerado um indicativo de sua autoria na época (século XIX), pois não cita autores do início do século XX, nem mesmo os continuadores da abordagem espírita. Tal hipótese pode ser complementada por uma análise do estilo e características ortográficas da época, a ser realizado. [23]

Na coletânea de Ramiro Gama (1898-1981) "Lindos casos de Bezerra de Menezes" há diversas referências à interpretação e interesse do Dr. Bezerra de Menezes sobre esse tema da "doença mental". [24] Observe-se também, que quanto ao "Livro dos espíritos", como se sabe, Menezes foi um dos seus divulgadores e defensores desde que tomou conhecimento dessa obra, na sua primeira tradução para língua portuguesa em 1875, pelo Dr. Joaquim Carlos Travassos (1839-1915) de quem recebeu um exemplar. Contudo ainda existem poucos estudos sobre a importância e impacto do livro do Dr. Bezerra de Menezes no modo de tratamento dos casos de distúrbio mental nos meios científicos e mesmo em centros espíritas.

Pouco ainda se conhece também, sobre a relação dessa obra com suas contribuições à homeopatia, parapsicologia e o desenvolvimento da psiquiatria e psicologia no Brasil enquanto objeto de estudo de sua história ou somente para confirmação (verificação de eficácia) ou contestação apesar de seu reconhecimento pela doutrina espírita.  Assim como também o nome de Hahnemann não é citado em textos sobre a história da psicologia, nem seu nome é reconhecido na psicologia hoje. E, no entanto, mesmo antes de Hahnemann desenvolver a ciência homeopática, ele fez contribuições importantes para o cuidado da saúde mental. No final dos anos 1700, a loucura era considerada possessão de demônios. Os insanos eram considerados animais selvagens, e o tratamento era principalmente punição. Hahnemann foi um dos poucos médicos que percebeu a doença mental como uma doença que requer um tratamento humano. Ele se opôs à prática de acorrentar pacientes mentais, concedeu respeito a eles e recomendou descanso e relaxamento simples. Embora esse tipo de atendimento possa parecer obviamente importante, ele foi revolucionário na época. [25] [26]

Ainda sobre o livro (sumário e principais referências)

O livro divide-se em três capítulos: o primeiro discorre sobre a existência do espírito ou alma, em ampla discussão, passando em revista a história da filosofia, tradições populares e relatos de casos. No segundo capítulo aborda a questão das relações entre o espírito e o cérebro, mas, ao contrário do primeiro cita poucos textos, especialmente de médicos, frenologistas e/ou fisiologistas de sua época. Fundamenta-se na dualidade proposta por René Descartes (1596 - 1650) e em "experimentos espíritas" realizados na época. Entre os experimentos cita a participação do físico - químico inglês, Sir. William Crookes (1832 - 1919), um dos primeiros cientistas a investigar o estado físico da matéria que hoje é chamado de plasmas, além do conhecido Cesare Lombroso (1835 - 1909) graças às suas contribuições à criminologia.

Lombroso publicou em sua época primeiramente livros contra [27] e depois a favor das crenças espíritas. [28] As primeiras experiências espíritas realizadas por ele, segundo consta, a convite do conde Ercole Chiaia, foram sessões com a médium italiana Eusápia Palladino descritas no seu livro Hipnotismo e Mediunidade, e podem ser consideradas uma influência intelectual à obra aqui analisada.

Finalmente no terceiro capítulo, intitulado Obsessão, Menezes refere-se à concepção de Esquirol (1772 - 1840) quanto ao problema da integridade ou lesão cerebral dos portadores de transtorno mental bem como na busca e explicação dos surtos, remissão de sintomas e analisa o fenômeno da anestesia, recorrendo também, para surpresa de alguns teóricos da época, a um depoimento do espírito de Samuel Hahnemann (1755 - 1843) (Menezes, o.c. p. 170) embora não sejam conhecidas referências a prática do espiritismo e/ou à Allan Kardeck (1804 - 1869) por Hahnemann em sua vida na Saxônia ou em Paris, para onde se mudou em junho de 1835.

Neste terceiro capítulo apresenta uma estratégia para, segundo ele, a difícil tarefa de distinção entre a "loucura moral" ou mais apropriadamente denominada de "loucura psicológica" enquanto perturbação apenas da faculdade anímica e, as associadas à lesão de seu "instrumento de manifestação", o cérebro. Observando que nas lesões cerebrais, sendo possível, a reparação do dano teríamos as funções mentais restauradas, ao contrário dos casos onde não se identificam alterações orgânicas. No primeiro grupo é onde se insere o que o espiritismo chama de obsessão, com suas fases de "desfalecimento" e "arrastamento" onde se rompe a harmonia entre o "ser pensante" e órgão de manifestação do pensamento (cérebro). Segundo ele o espírito permanece "lúcido" em ambos os casos e o mal consiste na irregularidade da comunicação ("transmissão") alma - cérebro (no caso da obsessão) ou manifestação do pensamento (nas lesões orgânicas). Reconhece a utilidade da hipnose como forma de distinção diagnóstica e intervenção em ambos casos, contudo adverte sobre os refratários a esse método, citando os experimentos de Jean-Martin Charcot (1825 - 1893) e afirma ser "a cura pelos meios morais, a melhor prova de exatidão do diagnóstico" (o.c. p. 178). Observe-se a concordância da obra com o mundo e questões intelectuais (zeitgeist) do final do século XIX.

Contribuições à homeopatia

Pouco se conhece da atuação do Dr. Bezerra de Menezes enquanto médico homeopata e menos ainda enquanto clínico do que hoje denominamos distúrbios psiquiátricos.

Consta que atendia, próximo de sua residência ente 1897 e 1900, os últimos 4 anos de sua vida, tanto na clínica privada como filantrópica, em um consultório situado acima da na Farmácia do Laboratório Homeopático A. Cordeiro & Companhia, que inclusive lhe aviava as receitas. Atendeu também, como homeopata, desde 1895, no “Serviço de Assistência aos Necessitados” da Federação Espírita Brasileira - FEB a pedido do Dr. Bittencourt Sampaio, que também o convidou a assumir a presidência da FEB, cargo que exerceu, em concomitância com os atendimentos até seu falecimento, em 11 de abril de 1900. [31] [32]

Sabe-se também que, como visto, no Brasil o Espiritismo e a Homeopatia tiveram uma origem comum, ambos com lugar de destaque na corte e na medicina do período imperial. [5].  Segundo publicado na revista de divulgação da doutrina espírita, Reformador de 1º de maio de 1883 o conhecido homeopata Melo Moraes (1816 - 1882) integrava um group espírita juntamente com o Marquês de Olinda (1793 -1870) e o Visconde de Uberaba (1792 -1856) entre outros vultos notáveis da época. [29] Apesar do conhecimento e divulgação desta especialidade médica entre intelectuais da corte, considera-se que a homeopatia, foi introduzida no Brasil no dia 21 de novembro de 1840 (atual Dia Nacional da Homeopatia) pelo médico francês Jules Benoit Mure (1809 - 1858). [30]

Entre os estudos e pesquisas sobre terapêutica e medicina clínica do Dr. Bezerra de Menezes, merece ser citado seu interesse pela medicina medianímica inclusive com experimentos pessoais de seu tratamento e de sua esposa com o médico desencarnado Dr. Menezes Dias da Cruz, através do médium receitista João Gonçalves do Nascimento (1844 - 1916). Experiência esta, possivelmente entre outras, que lhe conduziu a proferir um parecer favorável, na câmera de vereadores, e em oficio à presidência da república (Marechal Deodoro da Fonseca), sobre sua eficácia (que deveria ser investigada) e/ou contra a sua criminalização.  [33] [34]

O vereador Bezerra de Menezes fez diversas recomendações contra a proibição dessa prática, acusada por vezes de feitiçaria, [Nota 1] e à demanda por estudos e verificação estatística de seus resultados, em artigos publicados na sua coluna "Espiritismo, Estudos Filosóficos" no Jornal "O Paiz" entre 1887 e 1895, da capital republicana da época (o Rio de Janeiro), onde assinava com pseudônimo de Max. [35]   

Observe-se também que o Dr. Bezerra de Menezes se considerou um homeopata, autodidata [32], pois não frequentou o Instituto de Homeopatia do Brasil fundado em 1843 [31], mas por ser estudioso da medicina dos espíritos praticada pelos médicos receitistas, aplicado a homeopatia no tratamento de seus familiares e por ter exercido a prática cirúrgica como Assessor do Cirurgião Mor no Exército Brasileiro e ter sido redator de um dos principais periódicos científicos da época. Além de ser um destacado pesquisador da doutrina espírita, ou seja, foi após muitos anos de estudos teóricos e prática médica, que dedicou-se à homeopatia.

São tênues os limites entre as concepções de doença como sendo uma desordem da energia vital, integrantes do paradigma vitalista, ainda hegemônico da época, tanto no espiritismo científico, quanto na homeopatia ou alopatia, apesar das críticas e polêmicas da época contra a homeopatia e espiritismo. Observe-se também que o Dr. Samuel Hahnemann, é citado como referência sobre a importância dos temperamentos (coléricos, bilioso e linfático) no livro “O evangelho segundo o espiritismo” (Cap. 9 - Bem-Aventurados os Mansos e Pacíficos).

No clássico livro base da homeopatia (Organon) a palavra “espírito” citada dezenas de vezes e também é reconhecida e descrita a importância dos fatores emocionais como causas das doenças.  Pode ter sido este o interesse do Dr. Bezerra de Menezes no tratamento dos distúrbios emocionais, que o conduziu a escrever “A loucura sob novo prisma” mas, são também frequentes, nas suas biografias, as citações de que um dos seus filhos, ainda jovem, foi acometido por uma doença mental.

Contribuições à saúde mental

O Dr Bezerra de Menezes obteve o doutoramento (graduação) em 1856, com a defesa da tese: "Diagnóstico do cancro", onde já analisa a influência dos temperamentos, hábitos, profissões, emoções (paixões morais tristes e deprimentes), irritabilidade local e hereditariedade no conjunto de fatores multicausais da patologia. [36] Nesse mesmo ano, como referido em sua biografia, o Dr. Manuel Feliciano Pereira Carvalho, seu antigo professor, o convidou para trabalhar como seu assistente. Em 1858 foi nomeado como assistente do Corpo de Saúde do Exército, no posto de Cirurgião-tenente. Entre 1859 a 1861 exerceu a função de redator dos Anais Brasilienses de Medicina, periódico da Academia Imperial de Medicina.

Como se vê, além do livro "A loucura sob novo prisma" (publicado postumamente) e das referências à utilização da homeopatia, pouco se conhece, como dito, da sua atuação e interesse na área de saúde mental. Nessa época já existiam cerca de 20 hospitais para internamento de doentes mentais em todo território nacional e o tratamento mais utilizado era a internação. [37] [Nota 2]

Seus trabalhos na Câmera Municipal do Rio de Janeiro (a capital do país) revelam que o Dr. Bezerra de Menezes estava atento para questões psicossociais (no modo como as compreendemos hoje). Além de medidas sanitárias usuais (localização adequada de do abatedouro, reformas no sistema de abastecimento de água) participou da campanha abolicionista e publicou o ensaio "A escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para extingui-la sem danos para a Nação" (1869), onde incluía recomendações não só a libertação dos escravos, mas também a inserção e adaptação dos mesmos na sociedade por meio da educação. Nessa perspectiva destaca-se ainda no seu trabalho como deputado o projeto de lei destinado à regulamentar o trabalho doméstico, visando conceder a essa categoria, inclusive, o aviso prévio de 30 dias.

Segundo Monteiro [38] um de seus importantes biógrafos, no livro “A loucura sob novo prisma” o Dr. Bezerra de Menezes reafirma a harmonia possível entre a religião e o progresso científico (ver carta a seu irmão sobre sua conversão ao Espiritismo), [39] uma constante preocupação de sua época e ambiente intelectual das suas relações sociais (jornalistas, administradores, políticos, profissionais liberais, etc.) que não se conformavam com o seu compromisso com a doutrina espírita. De acordo com esse autor a tese central deste livro é a de que a loucura não pode ser considerada sob um único prisma, tendo em vista o grande número de casos em que não se apresenta qualquer lesão cerebral e que a ciência não pode ignorar a outra causa da loucura, proveniente de obsessão espiritual, exigindo, por isso mesmo, tratamento específico.

Como vimos, é também inquestionável a sua atenção aos problemas relativos à doenças nervosas. Além deste livro, há um artigo de sua autoria, publicado no Reformador de 15 de abril de 1890, onde descreve uma obsessão em um rapaz de 22 anos, “há tempos sofrendo de perturbação mental” e “verdadeira fúria” onde deixa evidente sua proposição de trabalho em casos identificados como de obsessão com atuação mediúnica em sessão espírita. [38] [40]

Outra referência histórica ao tema da loucura e obsessão encontra-se no artigo publicado na sua coluna no jornal "O Paiz", intitulado "Loucura e Obsessão" onde, não só apresenta sucintamente as contribuições do já citado psiquiatra francês Jean-Étienne Dominique Esquirol sobre o "cérebro perfeito" dos "loucos incuráveis" condenados a reclusão, o "grande passivo da ciência psiquiátrica", segundo ele, como também anuncia "o tratado, que está a escrever há dois anos, sobre esse importante assunto" e que, um dia publicará. Não há dúvidas que se trata do livro "A loucura sob novo prisma", onde inclusive, como vimos anteriormente, retoma críticas às contribuições de Esquirol e estudos da época sobre memória (orgânica, inconsciente) e força motora, segundo ele não conclusivos. Afirmando, explicitamente, os resultados positivos da aplicação de fluidos por médiuns devidamente preparados para tal. Na caracterização dessa preparação cita Erasto em texto publicado na Revista Espírita de Paris ainda sob a direção de Allan Kardec (1804 - 1869) [41]

Contudo a relevância desse autor e sua importância para a cultura brasileira estão no reconhecimento das relações entre religião e saúde mental para compreensão da mente humana, onde, um estudo contextualizado e referenciado de sua produção ainda está por ser realizado, apesar da considerável produção teórica explorando a relação entre psicologia (psicanálise) e religião. O mesmo pode ser dito quanto a estudos de reconhecimento consensual que mostrem a eficácia da medicação homeopática (e fitoterápica) com os distúrbios mentais.




Concluindo

Observe-se que apesar de consideráveis estudos sobre possessão, interpretadas no final do século XIX e início do século XX (ver Nina Rodrigues e Jean-Martin Charcot por exemplo) como uma manifestação epiléptica, histérica, ou de sugestão hipnótica, o Dr. Bezerra de Menezes, após revisão dos principais autores médicos de sua época como vimos acima, adotou uma posição contrária a essa postura intelectual imposta pelo paradigma materialista instituído. Em nossos dias, cada vez mais se tem explorado os aspectos “normais” e ou potencias (enquanto expansão da consciência) dos estados de transe, visões e outras manifestações religiosas.

Outro mérito desta obra ou quiçá de toda aplicação da concepção de energia e fluido vital às patologias estudas pelo Dr. Bezerra de Menezes, especialmente o câncer e doenças mentais, é a compreensão ampliada, unificando (?) as concepções espíritas e homeopáticas tanto nas intervenções somáticas (orgânicas no tratamento cirúrgico do câncer e psicofarmacológico) ou espirituais nos rituais psicossociais das sessões espíritas. Naturalmente que as suas concepções sobre a natureza e tratamento do câncer, expresso na sua tese [36] ainda precisam ser melhor analisadas, tanto do ponto de vista histórico como na ótica da homeopatia e concepção espírita.

Questões estas que ainda permanecem e atravessaram todo o século XX nas proposições de análise quantitativas (finalistas / eletroquímicas) e qualitativas (causalistas / simbólicas) da energia psíquica ou libido no tratamento dos distúrbios mentais através da psicanálise e psicologia analítica. Notadamente, espero ter evidenciado, que as contribuições do Dr. Bezerra de Menezes para compreensão da energia e fluido vital, neste livro e em outras contribuições de artigos sobre a religião espírita e a loucura (possessão) ou doenças mentais consultados, foi destacar os aspectos simbólicos ou a dimensão qualitativa dos miasmas e energia em sua articulação com questões psicossociais.

Segundo C. G. Jung (1875 - 1961) a energia vital, hipoteticamente admitida, pode ser chamada libido, tendo em vista seu emprego em psicologia, diferenciando-a, assim, de um conceito de energia universal e conservando - lhe, por consequência, o direito especial da psicanálise de formar seus próprios conceitos, não invalidando os termos "bioenergia" ou "energia vital". [42]

É também, ingenuidade supor que as descobertas microbiológicas de Pasteur explicaram a natureza e origem da vida e que o vitalismo e cientificidade sejam, termos, incompatíveis entre si ou que a oposição homeopatia X alopatia, resolveu-se em finais dos século XIX, note-se que ambas concepções atualizaram-se. Luz, ainda nos chama atenção que é também um reducionismo nos prendermos a esta questão da dimensão espiritual da energia, apesar de sua importância, diante de outras oposições possíveis, tais como (1) medicina dos doentes por oposição à medicina das doenças; (2) atenção ao discurso do paciente em oposição ao reducionismo anátomo-clínico; (3) atenção à gestalt em vez da limitação à etiologia; (4) personificação de doses e medicamentos em vez de generalizar doses e drogas à patologias ou sintomas; juntamente com questões ainda pouco compreendidas como (5) a dinamização e propriedades físicas de “substancias” no nível de diluição infinitesimal; ou (6) a natureza da experimentação de medicamentos no homem sadio, no caso: auto experimentação e relato verbal ("drug pictures" e "proving" como denominados por Hahnemann). [43] [44] [45] Aliás observe-se que o princípio cientifico da experimentação e confirmação clínica (no caso da homeopatia) são critérios da ciência e da homeopatia.    

A análise do contexto institucional e proposições deste livro sobre as inter-relações entre a doutrina espírita, homeopatia e a psiquiatria, seja escrito nos finais do século XIX ou início do século XX, podem trazer novas contribuições à identificação da sucessão de contribuições históricas sobre psicose e religiosidade ou espiritualidade. Parapsicólogos espíritas como Menezes Jr & Moreira-Almeida [46] comentam a atual produção sobre essa relação, distinguindo entre as pesquisas atuais disponíveis dois grandes grupos: religiosidade e seu impacto sobre os pacientes psicóticos e o tema do diagnóstico diferencial entre experiências espirituais e transtornos psicóticos, onde identificam desde generalizações simplificadoras até as aproximações de impossíveis comprovações (no atual paradigma científico), ressaltando porém os vazios teóricos da área e possibilidades de desenvolvimento de uma melhor compreensão da experiência humana. Além da promoção de meios mais eficazes de cuidados clínicos, humanitário e sensível, no campo da saúde mental. 

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NOTA 1

 Lê-se no Decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890: Código Penal da República. Artigo 157: "É crime praticar o Espiritismo, a magia e seus sortilégios, usar de talismãs e cartomancias, para despertar sentimentos de ódio ou amor, inculcar cura de moléstias curáveis ou incuráveis, enfim, para fascinar e subjugar a credulidade pública. Pena: prisão celular de 1 a 6 meses e multa de 100$000 a 500$000."

NOTA 2

Engel, analisando a prática médica, as instituições e concepção de loucura no Rio de Janeiro, 1830-1930, constataram as contradições diagnósticas e manifestações de contestação. Citam o caso de R. C. S., internado no Hospital Nacional de Alienados durante quase três décadas com o diagnóstico de paranóia, que era espírita e, por isso, atribuía as suas crises de loucura à ação dos espíritos. Fazia questão de sublinhar que detinha uma outra verdade da loucura diferente da imposta pela psiquiatria, denunciando a arbitrariedade do poder daqueles que o diagnosticaram como louco: Quando tive os primeiros acessos, enfim quando consenti que se me tomasse por maluco, disse-me... cedo, não aos preceitos científicos que se invocam, mas a um processo de ‘Força maior’. Alguém que pode mais do que eu resolveu fazer-me maluco; não posso resistir, é forçoso sujeitar-me. (apud Moura, 1923:36) No desespero da consciência da desrazão, aprisionado nos labirintos do hospício, R. C. S. equilibra-se numa corda bamba: consente e rejeita, oscilando, entre a resistência e a sujeição. In: ENGEL, MG. Os delírios da razão: médicos, loucos e hospícios (Rio de Janeiro, 1830-1930) [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2001. 352 p. Loucura & Civilização collection. ISBN: 85-85676-94-9. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.

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45. MENEZES JR Adair; MOREIRA-ALMEIDA, Alexander. Religion, Spirituality, and Psychosis. Curr Psychiatry Rep (2010) 12:174–179

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ilustrações

Louis Pasteur ( 1822 – 1895)
foto antes de 1895 Paul Nadar (wikimedia commons)

Principaux ferments that cause beer to go bad, Pasteur, Études sur la bière, 1876 (Linda Hall Library) https://www.lindahall.org/louis-pasteur/

Urea - Wöhler synthesis
https://en.wikipedia.org/wiki/Wöhler_synthesis

Prāna (em sânscrito:प्राण, sopro de vida)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Prana

Qi or ch'i or ki, traditional Chinese: ; pinyin: qì
https://en.wikipedia.org/wiki/Qi

Physis Greek: φύσις [pʰýsis]) / Latin translation "natura"
https://en.wikipedia.org/wiki/Physis

Pneuma (πνεῦμα) Greek:"breath","spirit" or "soul".
https://en.wikipedia.org/wiki/Pneuma

Fotos de Bezerra de Menezes, reunidas por Nóbrega; Machado [32]
Colagem: CostaPPPR

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A LOUCURA SOB NOVO PRISMA
Bezerra de Menezes
(Sob o pseudônimo Max)
Publicação original de 1920:
Editora FEB – Federação Espírita Brasileira


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terça-feira, 11 de maio de 2021

Uso da Cannabis sativa e C. indica na Homeopatia

 




São bastantes conhecidas as descrições do uso médico da cannabis no oriente especialmente as referências a sua utilização na Índia, onde a planta também é conhecida pelos antigos hindus como ganjika em sânscrito (गांजा, ganja nas modernas línguas indo-arianas). [Encyclopædia Britannica, 1911 ] inclusive se denomina uma das variedades da espécie como Cannabis indica . Na China é conhecida por ( ou 大麻 - dà má) [Herb Dictionary] e descrita como uma erva de superior qualidade e importância em manuscritos chineses (a farmacopéia de Shen Nong) escrito por volta de 2737 aC. [Geller, Boas; Shen Nong]

É referida no “manual dos médicos de pés descalços” como laxante, ante-espasmodica (desconforto abdominal que melhora com a pressão). Descrita como uma "planta neutra e tônica" indicada para funções Yin (tranquilidade, astenia, inibição, "esfriamento", etc.) por sua ação, especialmente as sementes, sob forma de chá também é prescrita para pacientes idosos com irritabilidade insônia, boca seca e constipação. Segundo a concepção etnomédica chinesa é capaz de “apagar o fogo”, “umedecer os intestinos”, “tornando descendente o Chi túrbido”. [China Gov.; Botsaris ]

Sobre a distinção de duas espécies diferentes: Cannabis indica e Cannabis sativa proposta pelo célebre naturalista do século XVIII, Jean-Baptiste Lamarck ainda restam muitas dúvidas. Segundo Dr. Russo há uma maior concordância de que a Cannabis é uma espécie polimórfica com base na capacidade de todos os seus tipos se cruzarem e maior consenso ainda de que existem muitos quimiotipos de Cannabis considerando hoje: THC predominante; CBD predominante e tipos mistos. Destaca que esta última é uma boa classificação básica, mas também foi possível cruzar seletivamente para outros quimiotipos que expressam altos títulos de THCV, cannabidivarin, cannabichromene e até mesmo aqueles que produzem 100% de seus canabinóides como cannabigerol, ou outros sem canabinóides. O debate continua. Alguns defendem a Cannabis como uma única espécie, enquanto outros descrevem até quatro: Cannabis sativa, Cannabis indica, Cannabis ruderalis e Cannabis afghanica (ou kafiristanica). [Piomelli; Russo]

Dr. William Brooke O'Shaughnessy (1809 -1889)

Atribui-se a introdução da cannabis para a medicina ocidental ao Dr William Brooke O'Shaughnessy, um médico irlandês conhecido seu trabalho em farmacologia toxicologia forense e fluidos eletrólitos para terapia intravenosa. Publicou em 1839 "On the Preparations of the Indian Hemp, or Gunjah" no "Transactions of the Medical and Physical Society of Bengal" após leitura na Sociedade Médica e Física de Calcutá. Ele residiu na índia por 9 anos quanto contratado pela British East India Company (1833) exercendo também o papel de cirurgião, médico, professor de química na Faculdade de Medicina e Hospital de Calcutá.

O'Shaughnessy realizou os primeiros testes clínicos de preparações de canábis em animais, produziu extratos e tinturas com base em receitas nativas e experimentou seus efeitos clínicos em casos de reumatismo, hidrofobia, cólera e tétano e convulsões, relatou possíveis efeitos colaterais como formas típicas de delirium por uso continuado Em 1841 introduziu espécimes de Cannabis indica e Nux Pharmaceutical vomica nos Jardins Botânicos Reais de Kew, e guiou as reimpressões de seu artigo na Provincial Medical Journal. Chemists. Consta inclusive a sua recomendação de uso para cólicas menstruais à rainha Victoria através de Sir J. Russell Reynolds, MD, médico pessoal da corte e que foi eleito Fellow da Royal Society em 1843. [Herb Museum]

É importante para que se compreenda o potencial de utilização da homeopatia em psiquiatria - e que este uso não deve se limitar aos ditames da indústria farmacêutica) que também utilizam essas mesmas plantas considerado apenas um de seus princípios ativos. No tratamento homeopático, além dos distúrbios mentais como conhecemos hoje, diversas outras indicações clínicas foram pesquisadas por diversos observadores, tanto das fontes de “tintura mãe” como de suas diluições. Entre plantas psicoativas por exemplo temos: amanita (Amanita muscaria) , belladonna (Atropa belladonna) , chamomilla (Matricária chamomilla), hyosciamus (Hyoscyamus niger), helleborus (Helleborus nigernux vomica (Strychnos nux-vomica), opium (Papaver somniferum), stramonium (Datura stramonium), valeriana (Valeriana officinalis) entre outras e como dito na homeopatia seu uso não se limita às afecções do sistema nervoso.

Hanneman (1755-1843) destaca ...é somente mediante uma grande coleção de medicamentos conhecidos com precisão, em relação a esses seus modos puros de ação na alteração da saúde do homem, que podemos descobrir um remédio homeopático, um análogo morbífico adequado (curativo) para cada um dos estados mórbidos infinitamente numerosos existentes na natureza, para cada moléstia que aflige o mundo”... Regista também a continuidade de seu trabalho (até então de quarenta anos) com as contribuições dos “muitíssimos observadores precisos e dignos de confiança que vem prestando os seus serviços, assim enriquecendo esta, a única e verdadeira matéria médica, mediante cuidadosas experiências em si mesmos!... Fazendo a arte de curar aproximar-se das ciências matemáticas. [Hahneman – Organon (§ 145)]

É fundamental nos situarmos no contexto do modelo e concepção da homeopatia, observe-se que os Homeopatas que continuam exercendo sua clínica há mais de dois séculos e a utilização da cannabis (C indica e C sativa) nessa especialidade da medicina se deve ao próprio Samuel Hahnemann em 1796.  [Hahnemann; Morrell]

Segundo Teixeira no tratamento homeopático das doenças aplica um princípio de cura que estimula o organismo a reagir contra seus próprios distúrbios (princípio da similitude), administrando aos doentes doses infinitesimais de substâncias que apresentam a propriedade patogenética intrínseca de despertar, em pessoas sadias, sintomas semelhantes aos que se desejam curar.

Bontempo, (1980), destaca o uso da Cannabis sativa para o tratamento "doenças mentais" (psicose, histeria, delirium tremens, impossibilidade de prestar atenção (TDAH?), bruxismo e outros sintomas) onde destaca seu uso, por excelência, para insônia (em dose de 5 a 15 gotas da tintura-mãe); doenças (e sintomas) neurológicos (epilepsia, no pequeno mal, enxaqueca, vertigens) além da indicação para algumas formas de doenças cardíacas e distúrbios do aparelho reprodutivo e urinário incluindo infecções.

Referências

Encyclopædia Britannica - 11ª ed., ed. (1911). «Hemp». Consultado em 18 ago. 2013. Arquivado do original em 26 de agosto de 2013 https://web.archive.org/web/20130826023609/http://www.1911encyclopedia.org/Hemp

 Chinese Herb Dictionary - ma ren (huo ma ren) 麻仁,火麻仁 Complementary and Alternative Healing University Acesso Jan. 2015

 GELLER, Allen; BOAS, Maxell. As drogas matam bicho! (The drug beat). RJ, Edições MM, (1969) 1971

 SHEN NONG  The Divine Farmer's Materia Medica (A Translation of the Shen Nong Ben Cao Jing by Yang Shorr-zhong). Colorado: Blue Poppy Press, INC. 2008 [Herbs: Superior Class p.148] Google Books https://books.google.com.br/books?id=NjC-eTffFeQC&lpg=PP1&hl=pt-BR&pg=PP6#v=onepage&q=cannabis&f=false   Aces. Maio, 2021

 CHINA GOV. REVOLUTIONARY, HEALTH, COMMITTEE (Comitê Revolucionário da Provincia de Hunam - China) A Bare Foot Doctor’s Manual London GB, Routledge & Kegan Paul LTD 1978

 CHINA Gov. Manual chino de plantas medicinales, uso y dosificacion (sección del Manual del medico descalzo Hunan - China). México, Editorial Concepto, 1978

 BOTSARIS, ALEXANDROS S. Fitoterapia chinesa e plantas brasileiras. SP, Ícone, 1995

HAHNEMAN, Samuel (1755 - 1843) Organon (1810) Organon of Medicine. London: W. Headland, 1849. https://catalog.hathitrust.org/api/volumes/oclc/6793452.html Aces. maio, 2021

In: Google Books https://books.google.com.br/books?id=ayUSAAAAYAAJ&dq=Cannabis%20hahnemann%20organon&hl=pt-BR&pg=PA170#v=onepage&q=Cannabis%20hahnemann%20organon&f=false Aces. maio, 2021

 HERB MUSEUM. The Antique Cannabis Book. W. B. O'Shaughnessy, The man who brought medical cannabis to the West (Cap. 2) Medical cannabis a short graphical history http://antiquecannabisbook.com/chap2B/Shaughnessy/Shaughnessy.htm Acesso Maio 2021

MORRELL, Peter Hahnemann's First Provings. Stephen S. Sapp Lectures, Department of Sociology Iowa State University. http://www.homeoint.org/morrell/articles/firstprovings.htm  Acesso Maio 2021

PIOMELLI D; RUSSO EB. O debate Cannabis sativa Versus Cannabis indica : Uma entrevista com Ethan Russo, MD. Cannabis Cannabinoid Res. 01 de janeiro de 2016; 1 (1): 44-46. doi: 10.1089 / can.2015.29003.ebr. PMID: 28861479; PMCID: PMC5576603. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5576603/  Acesso Maio 2021

TEIXEIRA, Marcus Zulian. Tratamento homeopático dos distúrbios emocionais e comportamentais da infância e da adolescência. PEDIATRIA (SÃO PAULO) 2008;29(4):286-296 https://www.researchgate.net/publication/263595919_Tratamento_homeopatico_dos_disturbios_emocionais_e_comportamentais_da_infancia_e_da_adolescencia_Homeopathic_treatment_of_emotional_and_behavioral_disturbances_of_the_childhood_and_the_adolescence Acesso em maio 2021

VER TAMBÉM

Homeopathy Cannabis Ind.

Homeopathic Materia Medica by Nash CANNABIS SATIVA

Homeopathic Materia Medica by Nash CANNABIS INDICA

Homeopathy: CANNABIS SATIVA (From vol. i, 3rd edit., 1830.)

Acesso em 10 de maio de 2021

Anexo

Bontempo, Márcio. Estudos atuais sobre efeitos da Cannabis sativa (maconha).
SP, Ground, 1980, p. 11-14

 Lê-se no citado livro:

Baseado na máxima de Hipócrates Similia similibus curentur, ou seja, semelhante cura semelhante, a Homeopatia é um sistema médico que interpreta as doenças como sendo um mero distúrbio do veículo vital e as trata por meio de medicamentos capazes de produzirem um quadro semelhante de sinais e sintomas, (similia), característicos da doença em questão. A cura viria então devido à energia curativa liberada desse medicamento através de técnica especial farmacêutica denominada de dinamização, energia esta que provocaria no organismo uma reação natural de cura por meio de atividade hiperfísica.

Como exemplo, podemos citar o café, capaz de produzir hiperexcitação e insônia e, uma vez dinamizado, passaria a curar esses distúrbios. A ipecacuonha, capaz de produzir vômitos, é capaz de curá-los, quando manipulada homeopaticamente. E assim os exemplos se seguem.

Esse princípio do semelhante cura semelhante é conhecido milenarmente e era fato corriqueiro. Haja vista o hábito de dar os mesmos venenos, que os inimigos usavam em suas flechas, aos soldados, em pequenas doses na sua alimentação antes das batalhas.

O uso da cannabis na Homeopatia segue os mesmos princípios e ela é indicada, (depois de preparada, ou dinamizada), segundo o quadro clínico que determina, pois, em Homeopatia, a escolha do medicamento se faz segundo a identificação entre esse quadro medicamentoso e o quadro clínico do indivíduo, em que se buscam os elementos comuns, os mesmos que irão definir a escolha correta do agente terapêutico. Assim, temos como características da cannabis, que nos conduzem no sentido do seu uso homeopático, os efeitos típicos da Cannabis índica e da Cannabis sativa:

Os sintomas mais marcantes são mentais: grande exagero, excessos, julgamento precipitado, sensibilidade exagerada, "os minutos parecem anos", "alguns passos parecem milhas", as idéias amontoam-se e confundem-se no cérebro, as coisas parecem enormes, impossibilidade de concentrar a atenção, dispersão, idéias fixas, psicoses, medo de enlouquecer, extrema loquacidade, risos e gritos imoderados como reação a um estímulo verbal qualquer, ilusões espectrais, esquecimento das próprias palavras e idéias, sensação de levitação.

Segundo o Dr. W. Dewey: "Nas formas obstinadas e intratáveis de insônia, Cannabis é um dos melhores remédios, em dose de 5 a 15 gotas da tintura-mãe"

Usos mais-comuns na Homeopatia, em suas diversas dinamizações:

- Delirium tremens - Histeria - Epilepsia, no pequeno mal - Impossibilidade de prestar atenção - Idéias fixas - Psicoses - Dor de cabeça - Enxaqueca com flatulência - Insônia, estando morto de sono - Sensação de água gelada gotejando entre as espáduas - Ranger de dentes durante o sono - Lumbago constante sem agravação ou melhora - Sonolência invencível durante o dia ou após as refeições - Vertigens

- Doenças cardíacas - Blenorragia aguda - Dores queimantes da bexiga, antes e depois da evacuação - Dores queimantes da uretra e bexiga antes e depois de urinar - Uretra sensível ao toque ou palpação - Inteligência fraca - Gagueira - Espermatorréia - Dores nos rins que se irradiam para a região inguinal - Asma com muita falta de ar - Moléstias da planta dos pés e dos dedos dos pés em geral - Catarata - Opacidade da córnea - Dor lombar após o coito - Sonambulismo com alucinações e sonhos eróticos - Movimentos involuntários da cabeça - Vício de morfina - Medo de enlouquecer - Inteligência fraca -Incoerência de pensamentos com muito exagero e esquecimento - Sensação de formigamento nos órgãos genitais - Ereções excessivas (não é o mesmo que priapismo) - Albuminúria supurativa aguda

Bontempo, Márcio. Estudos atuais sobre efeitos da Cannabis sativa (maconha). SP, Ground, 1980, p. 11-14

Texto originalmente excluído do verbete da Wikipédia “Cannabis (psicotrópico como sem fontes e pseudociência (ou seja Hahneman e Bontempo não foram considerados fontes)  
https://pt.wikipedia.org/wiki/Discuss%C3%A3o:Cannabis_(psicotr%C3%B3pico)/Arquivo/2

Acesso em 10 de maio de 2021

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Saqib Bashir: Homeopathic dilutions

The flora homoeopathica (1852-1853). Digitized by the Missouri Botanical Garden for Biodiversity Heritage Library. https://www.biodiversitylibrary.org/page/6163665

Acesso em 10 de maio de 2021