Mircea Eliade assinala que a essência da espiritualidade
hindu se exprime através do mútuo relacionamento entre quatro conceitos
fundamentais: Carma, Maya, Nirvana e Ioga.
Desde o período pós-védico, o pensamento hindu busca compreender basicamente o seguinte:
1. A lei causal universal (Carma), que condena o ser humano a renascer indefinidamente;
2. O processo de ‘ilusão cósmica’ (Maya), que sustenta o universo, possibilitando, em razão da nossa ignorância metafísica, a eternização do processo reencarnatório;
3. A realidade absoluta (Nirvana, Átman, Brahman, o Incondicionado etc.), que transcende a ilusão cósmica e a experiência humana condicionada pela lei da reencarnação;
4. Os diversos meios para alcançar o Absoluto (Ioga) e
conquistar a libertação.
Souza analisando a história Sidarta Gautama (Buda) contada
por Herman Hesse e analisada na ótica da teoria jungniana do processo de
individuação e contextualizada com base nas perspectivas histórico-etnológicas
de Mircea Eliade e Joseph Campbell, nos apresenta o conceito de Nirvana obtido
através da Ioga,
Na concepção jungniana Sidarta busca separar-se do eu,
procura desindividualizar-se. Tendo em vista o problema da identidade,
implicado na possibilidade de desindividualização, é importante considerar a
posição de Jung quanto a essa questão.
Souza, L. E. da S. e ., & Delgado, V. T.. (2008). O percurso de Sidarta e o problema da identidade, um estudo transdisciplinar do romance de Hermann Hesse. Psicologia USP, 19(2), 213–234. https://doi.org/10.1590/S0103-65642008000200007
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Jung parte do princípio de que existem entre o homem ocidental e o oriental diferenças psicológicas e espirituais muito significativas é o que buscamos entrever, com essas anotações, apresentando excertos da “apropriação” que a psicanálise (e no caso a psicologia analítica) fez do conceito de “nirvana” que atravessa os continentes da Índia, para a China e Japão para uma desejada psicologia científica, que ainda hoje é um controverso projeto.
Vale também rever as concepções de qualidade e quantidade da
energia psíquica / energia vital, que como veremos foi, e é, uma conquista
desejada inclusive para sua utilização na acupuntura no âmbito da psicologia ou
neuropsicologia das “doenças mentais”...
Uma questão que lamentavelmente saiu do âmbito de discussões
acadêmicas para questões judiciais, de quem pode ou não pode praticar
acupuntura e entender a medicina tradicional chinesa, segundo o Colégio Médico
de Acupuntura no Brasil que entrou com processos judiciais contra a prática da
acupuntura nas profissões paramédicas incluindo a psicologia.
Voltando à qualidade de estudos acadêmicos, numa cuidadosa
revisão de 1.130 artigos e 85 textos completos sobre os diversos modelos
teóricos da consciência que se remetem a pelo menos 29 teorias da consciência, Sattin
et al. assinala que o conceito de 'consciência' pode ser encontrado em
documentos históricos desde a antiguidade, e pode ser comprovado em diversas
tradições e culturas com algumas perspectivas que, embora a linguagem da
expressão tenha se tornado diferente, parecem ser conceitos que evoluíram ao
longo da história e cita a obra de Fritjof
Capra que nos descreveu como alguns conceitos antigos orientais sobre uma
consciência universal são consistentes com a física moderna, como uma substância que vem de uma “consciência
cósmica” (esta foi a definição de consciência usada) da qual toda a matéria é
feita.
Capra, Fritjof. The Tao of Physics. Shambhala
Publications; Boston, MA, USA: 1974. In:
Sattin D, Magnani FG, Bartesaghi L, Caputo M, Fittipaldo AV,
Cacciatore M, Picozzi M, Leonardi M. Theoretical Models of Consciousness: A
Scoping Review. Brain Sci. 2021 Apr 24;11(5):535. doi:
10.3390/brainsci11050535. PMID: 33923218; PMCID: PMC8146510. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8146510/
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Marcelo Gleiser em artigo especial para a Folha SP - Ciência
e espiritualidade (18 de Julho de 1999) comenta a proliferação de seitas da
"Nova Era", de várias superstições e de pregadores da
"verdade", proliferando o crescimento do desprezo pela ciência e pelo
que ela tem a dizer sobre o mundo. Destaca os livros de divulgação científica
tiveram sucesso por revelar uma conexão entre ciência e espiritualidade, como
"O Tao da Física", de Fritjof Capra, mas nos alerta para consideração
de que a ciência esteja simplesmente redescobrindo "verdades"
descobertas através da meditação ou de uma conexão mística com o mundo, como
nas religiões orientais ressaltando que o fundamental é saber discernir os limites entre
a ciência e a espiritualidade, suas diferentes missões e o simples fato de elas
serem necessárias para a nossa existência.
Observe-se que tal cuidado, inclusive já está na proposição
de Capra quando nos afirma que:
...uma experiência mística, portanto, à semelhança de um
moderno experimento levado a cabo pela Física, não é um fato único. E, por
outro lado, não se afigura menos sofisticada que este, embora sua sofisticação
seja de um tipo inteiramente diverso. A complexidade e eficiência do aparato
técnico de que dispõe o físico é igualada, quando não superada, pelo aparato de
que dispõe a consciência do místico - tanto em termos físicos quanto espirituais
- quando em meditação profunda.
Todo aquele que quer repetir um experimento na moderna
Física subatômica tem de passar por inúmeros anos de treinamento. Somente então
estará capacitado a indagar da natureza uma determinada questão, utilizando-se
do experimento, e a possuir as condições que o habilitem a compreender a
resposta. De idêntica forma, uma experiência mística profunda demanda, via de
regra, inúmeros anos de treinamento sob a orientação de um mestre experiente e,
da mesma forma que no treinamento científico, o tempo dedicado a essa tarefa
não garante, por si só, a obtenção do sucesso. Se o aluno consegue ser bem-sucedido,
estará em condições de repetir o experimento '". A possibilidade de
repetir a experiência constitui, na verdade, uma característica essencial para
o treinamento místico: nela reside, de fato, o objetivo básico da instrução
espiritual dos místicos. Capra oc. (tradução brasileira Cultrix) p.36
Gleiser, Marcelo. Ciência e espiritualidade. Folha SP 18 de Julho de 1999 https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe18079903.htm
Capra Fritjof. O
tao da física. SP: Cultrix, 1995
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Para Carl Gustav Jung (1875 - 1961)
integrante da sociedade internacional de psicanálise até 1912
... todo fenômeno requer ao mesmo tempo um ponto de vista mecanicista-causal e um ponto de vista energético-final. É somente a oportunidade, quer dizer, a possibilidade de êxito que decide se a preferência deve recair sobre este ou aquele ponto de vista. Se se considera o aspecto qualitativo do acontecimento, é o ponto de vista energético que é postergado, porque nada tem a ver com as substâncias, mas unicamente com suas relações quantitativas de movimento.
Já se discutiu muito a questão se o acontecimento psíquico pode ser tomado também sob o ponto de vista energético.A priori não há razão para que isto não seja possível, pois não há motivos para excluir o acontecimento psíquico do campo dos dados objetivos da experiência. Como bem o mostra o exemplo de Wundt, é possível duvidar, de boa-fé, que o ponto de vista energético possa ser aplicado com relação aos fenômenos psíquicos, e, em caso afirmativo, que a psique possa ser considerada como um sistema relativamente fechado.
No que respeita ao primeiro ponto, devo concordar com a
opinião de VON GROT, um dos primeiros a sustentar a teoria energética da
psique, quando afirma: "O conceito de energia psíquica é tão legítimo em
ciências quanto o de energia física, e a energia psíquica tem também suas
medidas quantitativas e formas diferentes, como a energia física".
No que se refere ao segundo ponto, eu me distingo dos que estudaram esta questão até o presente, no sentido de que quase não me tenho preocupado em enquadrar os processos da energia psíquica no sistema físico. Se não o faço, não é porque possuo, quando muito, vagas suposições a este propósito, mas porque não encontro pontos de apoio reais.Embora esteja convencido de que a energia psíquica se acha de algum modo estreitamente ligada ao processo físico, ainda preciso de experiências e de conhecimentos bastante diversos para falar, com competência, a respeito desta vinculação.
V. GROT, Die Bregriffe der Seele und derpsychischen Energie in der Psychologie, p. 290.
WUNDT W. Grundzüge der physiologischen Psychologie, III, p. 692s.
JUNG, Carl Gustav A energia psíquica. RJ: Petrópolis: Vozes, 2002
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HOMEOSTASE, ENTROPIA,
NIRVANA.
Perfeita essa colocação de C. G. Jung, contudo, o mérito de tal distinção entre
os aspectos qualitativos da energia psiquica (libido ou eros, como veremos)
cabe a Sigmund Freud desde sua proposição inicial de "Projeto de uma
Psicologia Científica" 1895 (1950) e elaboração da concepção de
"aparelho psíquico” nos apresentada no livro "A interpretação dos
sonhos" (1900) por analogia aos aparelhos ópticos que nos permitem superar
os limites do olho humano. (Talvez hoje utilizasse a noção de "software"
pela capacidade de governar maquinas elétricas análogas ao sistema nervoso
animal).
De qualquer sorte, Freud (1920), no artigo Mais além do
princípio do prazer decerto já conhecia as noções de constância “milieu
interne” ou “intérieur” – de Claude Bernard (1878) e/ou de homeostasia
desenvolvida por seu contemporâneo Walter B. Cannon (1871-1945).
A ideia de homeostase, de uma busca de equilíbrio interno,
uma vez que ele relacionou o princípio do prazer, de nirvana, de constância, e
entropia, elementos do campo científico de sua época, a seu próprio modo,
Para Prata, para investigar esse tema, Freud (1920) discute,
como questão inicial, a relação do princípio da constância com o princípio do
prazer citando ainda a tendência à estabilidade desenvolvida por Fechner, que
relaciona a estabilidade ao prazer e a instabilidade ao desprazer, fala que o
aparelho psíquico tenta manter constantes ou tão baixas quanto possível suas
excitações internas. Concepção corroborada, segundo ela por Laplanche e
Pontalis (1986)
Que colocam a questão de saber se aquilo que Freud (1920)
chama de princípio de prazer corresponde à manutenção da constância do nível
energético ou a uma redução radical das tensões ao nível mais baixo.
Observe-se que o próprio Freud utilizou o conceito de
Entropia, grau de desordem, num sistema físico, reduzindo a energia a condição
de indisponível para a efetuação do trabalho. Pelo menos duas vezes (1918,
1937)
Segundo ele considerando a conversação da energia psíquica,
não menos do que a de energia física, devemos fazer uso do conceito de
entropia, que se opõe à anulação do que já ocorrera.
Freud Sigmund. Análise terminável e interminável (1937)
Freud Sigmund. História de uma neurose infantil (1918
[1914])
Prata, Maria Regina Pulsão de morte: mortificação ou
combate?. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica [online]. 2000, v. 3, n. 2
[Acessado 5 Outubro 2021] , pp. 115-135. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S1516-14982000000200007>. Epub 27 Fev 2009. ISSN
1809-4414. https://www.scielo.br/j/agora/a/BctFXkHX4p6CvBD3Vg7PwWS/?lang=pt#
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Voltando ao conceito de NIRVANA, segue excertos de sua obra
sobre:
Sigmund Freud (1856 -1939)
ALÉM DO PRINCÍPIO DO PRAZER (1920)
...retornemos aos impulsos sexuais conservadores da vida. Da pesquisa com protistas já ficamos sabendo que a fusão de dois indivíduos sem divisão posterior, a cópula, atua sobre ambos, que então logo se separam, de maneira fortalecedora e rejuvenescedora. (Ver Lipschütz, acima.) Nas gerações seguintes, eles não apresentam quaisquer fenômenos degenerativos e parecem capacitados a resistir por mais tempo às nocividades de seu próprio metabolismo. Acredito que essa observação pode ser tomada como exemplar também para o efeito da união sexual. Porém, de que maneira a fusão de duas células pouco diferentes produz semelhante renovação da vida? O experimento que substitui a cópula entre os protozoários pela influência de estímulos químicos ou mesmo mecânicos certamente permite dar uma resposta segura: isso acontece mediante o acréscimo de novas grandezas de estímulo. No entanto, isso se harmoniza bem com a hipótese de que o processo vital do indivíduo leva, por razões internas, ao nivelamento de tensões químicas, isto é, à morte, enquanto a união com uma substância viva individualmente diferente aumenta essas tensões, introduz novas diferenças vitais, por assim dizer, que então precisam ser vividas até o esgotamento. Naturalmente, deve haver uma ou mais condições ótimas para essa diferença. O fato de termos reconhecido que a tendência dominante da vida psíquica, talvez da vida nervosa em geral, é a aspiração por reduzir, manter constante, eliminar a tensão interna de estímulo (o princípio de nirvana, segundo uma expressão de Barbara Low), tal como essa aspiração se expressa no princípio de prazer – esse fato, dizíamos, é um de nossos mais fortes motivos para acreditar na existência de impulsos de morte....
Freud. Sigmund. Além do princípio do prazer, 1920
Lipschütz, A. Warum wir sterben [Por que morremos]. Stuttgart, 1914. (104-105, 118)
Low, Barbara Psycho-Analysis — "A brief account of the Freudian theory” em 1920,
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Barbara Low (1877-1955)
Em seu Livro Low..no terceiro capítulo, enquanto tenta apresentar a ideia do recalcamento, faz breves descrições do princípio de prazer e de realidade. Explicando o princípio de prazer, Low se vê diante da tarefa de demonstrar de que modo sensações de dor e desprazer obedeceriam a essa tendência. Após afirmar que dor e desprazer podem ser utilizados para intensificar as sensações de prazer e que de fato isso é feito desde a infância, propõe:
É possível que mais profundamente que o princípio de prazer jaz o princípio de Nirvana, como se poderia chamá-lo – o desejo da criatura recém-nascida de retornar ao estágio de onipotência, no qual não há desejos não satisfeitos, no qual ele existia dentro do útero da mãe. ...
Outra referência possível, segundo Silva:
Se tentarmos agora localizar na filosofia de Schopenhauer algo que possa ter influenciado Low em suas afirmações sobre o princípio de Nirvana, encontraremos indícios em “O Mundo como Vontade e como Representação”. Na parte final dessa obra, Schopenhauer tenta refletir sobre os efeitos de seu pensamento na prática, caminhando para uma proposição (ou talvez uma problematização) ética.
Já que não é possível (e nem mesmo necessário, nesse caso) nos determos nas minúcias de seu raciocínio, vemos que ele indica haver uma semelhança entre o que chama de negação da vontade e o nirvana, “um estado no qual não existem quatro coisas, a saber, nascimento, velhice, doença e morte”.
Schopenhauer prossegue analisando as noções de bom, mau, justiça e vê como problema na relação entre os homens a afirmação da vontade, que causaria um bem transitório e relativo. Em oposição a isso afirma que o “bom absoluto” implicaria na “satisfação final da vontade além da qual nenhum novo querer apareceria”, coisa que só é possível ao negar a vontade. A total supressão da vontade seria o único caminho para livrar o homem do sofrimento que enfrenta quando está submetido a ela. Essa supressão parece ocorrer, de acordo com ele, na vida de santos e sábios budistas, por exemplo.
Ou ainda
.. ficamos com a impressão de que Low, apesar de não ter deixado explícito em seu texto, se serve das ideias de Ferenczi (1913) [“O Desenvolvimento do Sentido de Realidade e seus Estágios”]. Uma vez que seu livro tinha a intenção de ser mais acessível a leigos, ela pode ter optado por não incluir muitas notas ou citações, o que justificaria em parte a omissão. Sua descrição do princípio de Nirvana, porém, é feita em termos tão parecidos com os que Ferenczi havia utilizado sete anos antes que é muito provável que tenha sido ele uma das principais fontes dessa ideia.
Silva observa ainda que ... ao se apropriar do princípio de Nirvana de Low, Freud o apresenta sob um novo prisma. A descrição de Low tem como foco a noção de um desejo de retornar ao estado de onipotência da vida dentro do útero.
Para Freud, o essencial parece ser o mecanismo econômico desse desejo, traduzido como tendência à extinção das excitações.
Aparentemente, as duas versões do princípio de Nirvana não se contradizem, e sim se complementam.
... Para Freud, o foco parece ser o rebaixamento ou eliminação da tensão, que, na formulação de Low, aparece como estado em que não há desejos não realizados. ...
Silva , Marcus Vinicius Neto. Barbara Low e o princípio de Nirvana. Revista Lacuna 7 de agosto de 2019 artigo, n. -7 ISSN 2447-2663 https://revistalacuna.com/2019/08/07/n-7-7/
...................
Voltando a Freud:
Sigmund Freud (1856 -1939)
O PROBLEMA ECONÔMICO DO MASOQUISMO (1924)
Será lembrado que assumimos a opinião de que o princípio governante de todos os processos mentais constitui um caso especial da ‘tendência no sentido da estabilidade’, de Fechner, e, por conseguinte,
atribuímos ao aparelho psíquico o propósito de reduzir a nada ou, pelo menos, de manter tão baixas quanto possível as somas de excitação que fluem sobre ele. Barbara Low [1920, 73] sugeriu o nome de ‘princípio de Nirvana’ para essa suposta tendência, e nós aceitamos o termo. Sem hesitação, porém, temos identificado o princípio de prazer-desprazer com esse princípio de Nirvana. Todo desprazer deve assim coincidir com uma elevação e todo prazer com um rebaixamento da tensão mental devida ao estímulo; o princípio de Nirvana (e o princípio de prazer, que lhe é supostamente idêntico) estaria inteiramente a serviço dos instintos de morte, cujo objetivo é conduzir a inquietação da vida
para a estabilidade do estado inorgânico, e teria a função de fornecer advertências contra as exigências dos instintos de vida - a libido - que tentam perturbar o curso pretendido da vida. Tal visão, porém, não pode ser correta. Parece que na série de sensações de tensão temos um sentido imediato do aumento
e diminuição das quantidades de estímulo, e não se pode duvidar que há tensões prazerosas e relaxamentos desprazerosos de tensão. O estado de excitação sexual constitui o exemplo mais notável de um aumento prazeroso de estímulo desse tipo, mas certamente não o único. ...
... Seja como for, temos de perceber que o princípio de Nirvana, pertencendo, como pertence, ao instinto de morte, experimentou nos organismos vivos uma modificação através da qual se tornou o
princípio de prazer, e doravante evitaremos encarar os dois princípios como um só. Se nos preocupamos em acompanhar essa linha de pensamento, não é difícil imaginar a força que foi a fonte da modificação. Ela só pode ser o instinto de vida, a libido, que assim, lado a lado com o instinto de morte, apoderou-se de uma cota na regulação dos processos da vida. Assim, obtemos um conjunto de vinculações pequenos, mas interessantes. O princípio de Nirvana expressa a tendência do instinto de morte; o princípio de prazer representa as exigências da libido, e a modificação do último princípio, o princípio de realidade, representa a influência do mundo externo.
Gustav Theodor Fechner (1801 -1887)
o ‘princípio de constância’. A lei de Fechner posteriormente conhecida como lei de Weber-Fechner pode ser enunciada como: "a resposta a qualquer estímulo é proporcional ao logaritmo da intensidade do estímulo". Esta lei aplica-se aos 5 sentidos, mas as suas implicações são mais bem entendidas quando se refere aos estímulos provocados pela luz e pelo som. Citado no “Projeto para uma psicologia científica” (1950 [1895])
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ESBOÇO DE PSICANÁLISE (1940 [1938])
O id, excluído do mundo externo, possui seu próprio mundo de percepção. Ele detecta com extraordinária agudez certas modificações em seu interior, especialmente oscilações na tensão de suas
necessidades instintivas, e essas modificações tornam-se conscientes como sensações na série prazer-desprazer. É difícil dizer, com efeito, por que meios e com a ajuda de que órgãos sensórios terminais essas percepções ocorrem. Mas é fato estabelecido que as autopercepções - sensações cenestésicas e sensações de prazer-desprazer - governam a passagem de acontecimentos no id com força despótica. O id obedece ao inexorável princípio de prazer. Mas não o id sozinho. Parece que também a atividade dos outros agentes psíquicos só é capaz de modificar o princípio de prazer, mas não de anulá-lo, e permanece sendo questão da mais alta importância teórica, questão que ainda não foi respondida,
quando e como é possível este princípio de prazer ser superado. A consideração de que o princípio de prazer exige uma redução, no fundo a extinção, talvez, das tensões das necessidades instintivas (isto é, o Nirvana) leva às relações ainda não avaliadas entre o princípio de prazer e as duas forças primevas, Eros e o instinto de morte.
....................
Assim, concluindo segundo os Dicionários de Psicanálise
Princípio de Nirvana
al. Nirwanaprinzip; esp. principio de Nirvana; fr. principe de Nirvana; ing. Nirvana principle
Termo derivado do budismo e da filosofia de Arthur Schopenhauer (1788-1860), proposto pela psicanalista inglesa Barbara Low (1877-1955) e posteriormente retomado por Sigmund Freud, em Mais além do princípio de prazer, para designar uma tendência do aparelho psíquico a aniquilar qualquer excitação e qualquer desejo.
Barbara Low, Psycho-Analysis. A Brief Account of the Freudian Theory, Londres, Allen & Unwin, 1920.
Laplanche, Pontalis em seu dicionário sobre este “princípio do Nirvana”, destacam a relação desta concepção com o “princípio de inércia (neurônica) ” ou “princípio de funcionamento do sistema
neurônico” postulado por Freud no Projeto para uma psicologia científica (Entwurf einer Psychologie, 1895):
...os neurônios tendem a evacuar completamente as quantidades de energia que recebem... É no Projeto para uma psicologia científica que Freud enuncia um princípio de inércia como princípio de funcionamento daquilo a que chama então sistema neurônico. Nos textos metapsicológicos posteriores não retomará mais esta expressão. A noção pertence ao período de elaboração da concepção freudiana do aparelho psíquico. Sabe-se que Freud descreve no Projeto um sistema de neurônios apelando para duas noções fundamentais: a de neurônio (qualidade?) e de quantidade
Roudinesco, Elisabeth, 1944. Dicionário de psicanálise /Elisabeth Roudinesco, Michel Plon; RJ: Zahar, 1998
Laplanche, Jean. Vocabulário de psicanálise. Laplanche e Pontalis. SP: Martins Fontes, 2001
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Para Rapaport na sua análise da estrutura da teoria
psicanalítica o Modelo da Entropia (ou Econômico) pode vir a
tornar-se um fator unificador da teoria psicanalítica, considerando que esta
não necessita de dados adicionais para desenvolver-se; ao contrário, a
quantidade de dados já é embaraçadoramente ampla. Também não precisa de dados
que – embora passíveis de tratamento estatístico - não passam de informes
clínicos disfarçados e a rigor, os próprios informes clínicos são melhores do
que os dados desse gênero.
Critica as tentativas de se obter nas experimentações situações
análogas às da clínica, mas destacando a demanda e a comparabilidade dos
recursos terapêuticos que privilegiam a concepção de autonomia e autonomia
relativa aposta nos métodos utilizados na Universidade de McGill, os estudos
Bethesda a respeito da privação sensorial e, métodos hipnóticos, como
apropriados. A teoria necessita de dados obtidos com a ajuda desses (e de
outros) métodos relevantes (eg., uso de drogas como a mescalina se é que este
uso não implique na perda de autonomia.
Em suas palavras a concepção/ modelo de Entropia proposto
(Freud, 1900 – “Interpretação dos sonhos) - implícito na direção atribuída ao
percurso da excitação no modelo topográfico – retrata a seqüência crucial, topograficamente
incompleta, do comportamento do lactente: inquietação → sugar o seio → declínio
da inquietação. Esta seqüência, que torna o comportamento referente dos processos
de redução de tensões, é considerado o modelo básico de todo o comportamento
motivado; e, em consonância com o postulado do determinismo, diz respeito aos
comportamentos com motivações óbvias assim como aos comportamentos
aparentemente acidentais.
Pode ser modificado - como veremos - para explicar também os
processos de manutenção da tensão e de aumento da tensão. O mérito deste modelo
está em que ele coordena uma série ampla de fenômenos, e serve, em particular,
como fundamento para os conceitos do princípio do prazer e da satisfação de
desejo; serve, ainda, em geral, para fundamentar o ponto de vista econômico que
abrange aqueles conceitos. O modelo desempenha papel importante na transformação
do ponto de vista topográfico em estrutural; contém, ainda, a essência dos
pontos de vista dinâmico e adaptativo. Uma vez que este modelo já implica algum
dos outros, apresentaremos, adiante, um esboço de uma tentativa prévia
(Rapaport, 1951b) no sentido de desenvolvê-lo para transformá-lo num modelo
psicológico unificado da teoria psicanalítica.
Rapaport, David. A estrutura da teoria psicanalítica, uma tentativa de sistematização. SP: Ed. Perspectiva...p.10 e p.123
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Da ilustração
निर्वाण
Nirvana , (sânscrito: "extinguir-se" no pensamento religioso indiano, o objetivo supremo de certas disciplinas de meditação . Embora ocorra nas literaturas de várias tradições indianas antigas, o termo sânscrito nirvana é mais comumente associado ao Budismo , no qual é a designação mais antiga e comum para o objetivo do caminho budista. É usado para se referir à extinção do desejo, do ódio e da ignorância e, em última análise, do sofrimento e do renascimento. Literalmente, significa “apagar” ou “extinguir-se”, como quando uma chama se apaga ou um fogo se apaga. ...
Buda ensinou que a existência humana é caracterizada por várias formas de sofrimento (nascimento, envelhecimento, doença e morte), que são vivenciadas ao longo de muitas vidas no ciclo de renascimento chamado samsara (literalmente “errante”). Buscando um estado além do sofrimento, ele determinou que sua causa – ações negativas e as emoções negativas que as motivam – deveria ser destruída. Se essas causas pudessem ser erradicadas , não teriam efeito, resultando na cessação do sofrimento. Essa cessação foi o nirvana. O Nirvana não era visto, portanto, como um lugar, mas
como um estado de ausência, nomeadamente a ausência de sofrimento.
Donald S. López. Nirvana (religion)
https://www.britannica.com/topic/nirvana-religion
Samsara (saṃsāracakka)
'Roda de renascimentos' (saṃsāracakka). A ignorância (avijjā) é o seu centro (ou nave) porque é a sua raiz. O envelhecimento e a morte (jarā-maraṇa) é o seu aro (ou fel) porque o encerra. Os dez elos restantes [da Origem Dependente] são seus raios [ou seja, saṅkhāra até o processo de vir a ser, bhava]
https://pt.dreamstime.com/illustration/dharmachakra.html
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涅
槃
Nièpán / Nirvana
涅 niè / escurecer, enegrecer
槃 pán / bandeja, disco de madeira
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